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Nova Diretiva da UE sobre Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD): Implicações e Oportunidades

3/6/2024
10 minutos

Breve enquadramento

A União Europeia (UE) tem intensificado os seus esforços para promover a sustentabilidade e a proteção ambiental. Um marco importante neste caminho é a recente Diretiva Europeia 2024/01275, que estabelece novas diretrizes para a gestão sustentável de edifícios.

No passado mês de abril de 2024, o Parlamento Europeu alcançou um marco significativo ao concluir a adoção da Diretiva relativa ao desempenho energético dos edifícios. Esta Diretiva, parte do EU Green Deal [1],t em como objetivo principal reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa e aumentar a eficiência energética dos edifícios na UE.

A nova Diretiva sublinha a necessidade de estabelecer normas mínimas de desempenho energético, incentivar a renovação energética de edifícios existentes e promover o uso de tecnologias de energia solar. Além disso, destaca a importância de eliminar gradualmente o uso de combustíveis fósseis no aquecimento e arrefecimento dos edifícios, visando alcançar edifícios com zero emissões até 2050.

 

Resumo da Diretiva

A Diretiva sobre Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD) tem implicações e oportunidades significativas para os Estados-Membros, empresas e sociedade em geral.

Quais são os pontos-chave desta Diretiva?

Melhorar a Eficiência Energética dos Edifícios

A EPBD estabelece metas ambiciosas para melhorar a eficiência energética dos edifícios existentes e das novas construções. Isso inclui a promoção de tecnologias e práticas que reduzem o consumo de energia e as emissões de carbono, tais como:

  • Tecnologias de Energia Solar: promove a implementação de tecnologias solares nos edifícios, como painéis solares foto-voltaicos e sistemas de energia solar térmica.
  • Eletrificação dos Edifícios: incentiva a utilização de bombas de calor e outras tecnologias de eletrificação, que são mais eficientes e têm menos emissões de carbono em comparação com os sistemas de aquecimento tradicionais baseados em combustíveis fósseis.
  • Armazenamento de Energia: sublinha a importância de integrar sistemas de armazenamento de energia, como baterias, para maximizar o uso de energia renovável gerada localmente.

 

Renovação Energética dos Edifícios

Para alcançar edifícios com zero emissões até 2050, a Diretiva incentiva a renovação energética profunda de edifícios existentes. Isso envolve:

  • Passaportes de Renovação: ferramentas que proporcionam uma visão de longo prazo para a renovação energética de edifícios, permitindo planear e executar as renovações por etapas.
  • Contratos de Renovação a Longo Prazo: contratos que garantem financiamento e suporte técnico para renovações energéticas profundas, facilitando a execução de projetos de grande escala.
  • Apoio Financeiro e Administrativo: destaca a necessidade de apoio financeiro e administrativo para incentivar e facilitar as renovações energéticas, especialmente para edifícios residenciais.

 

Mobilidade elétrica e Infraestruturas de Carregamento

A EPBD enfatiza o papel crucial dos veículos elétricos na descarbonização e promove a instalação de sistemas de carregamento nos edifícios. As medidas incluem:

  • Pré-cablagem e Condutas: a instalação de pré-cablagem e condutas nos edifícios novos e renovados para facilitar a implantação rápida de pontos de carregamento para veículos elétricos.
  • Carregamento Inteligente: a integração de tecnologias de carregamento inteligente e bidirecional que permitem a interação dos edifícios com a rede elétrica, otimizando o consumo de energia e reduzindo custos.

Digitalização e Tecnologias Inteligentes

A digitalização do setor da construção é fundamental para melhorar a eficiência energética dos edifícios. A Diretiva promove:

  • Indicadores de Aptidão para Tecnologias Inteligentes: ferramentas para avaliar a preparação dos edifícios para a implementação de tecnologias inteligentes, incentivando a adoção de soluções inovadoras.

 

Combate à Pobreza Energética

A EPBD tem o potencial de reduzir a pobreza energética, tornando os edifícios mais acessíveis e económicos de manter para os seus ocupantes, através das seguintes medidas:

  • Renovação de Edifícios Vulneráveis: dar prioridade à renovação de edifícios que abrigam agregados familiares vulneráveis, proporcionando melhores condições de vida e reduzindo os custos de energia.
  • Assistência e Aconselhamento: Oferecer assistência técnica e aconselhamento transparente para ajudar os cidadãos a tomar decisões informadas sobre a renovação energética dos seus edifícios.

 

O que acontece em cada um dos Estados-Membros da UE

Cada Estado-Membro é responsável por desenvolver o seu próprio plano - o Plano Nacional de Renovação de Edifícios (PNRE). Trata-se de uma iniciativa que se insere no âmbito EPBD e que tem como objetivo promover a eficiência energética e a renovação de edifícios, visando melhorar a eficiência energética e o conforto dos edifícios, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e promover a criação de emprego no setor da construção.

Em primeiro lugar, o plano requer uma análise abrangente do parque imobiliário existente, considerando a sua composição, idade, eficiência energética e necessidades de renovação. Isso envolve a identificação de obstáculos no mercado, capacidades do setor da construção, eficiência energética e energias renováveis, bem como a avaliação da vulnerabilidade dos agregados familiares.

Em seguida, o plano estabelece metas claras e mensuráveis e são definidos indicadores de progresso para monitorar o avanço da transformação dos edifícios existentes em estruturas com emissões neutras, incluindo a redução da pobreza energética.

Além disso, deve detalhar as políticas e medidas específicas que serão implementadas, e quando, para apoiar a execução das metas estabelecidas. Isso pode incluir incentivos financeiros, regulamentações de desempenho energético e programas de apoio técnico para encorajar os proprietários de edifícios a realizarem obras de renovação energética.

Outro aspeto importante é a identificação das necessidades de investimento e das fontes de financiamento disponíveis para as atividades de renovação. Isso pode envolver recursos públicos, financiamento privado e instrumentos de apoio da União Europeia.

O plano também estabelece padrões mínimos de desempenho energético para edifícios não residenciais e define uma trajetória para a renovação do parque imobiliário residencial, com metas intermédias para a redução do consumo de energia.

Além disso, o PNRE promove a formação e capacitação de profissionais do setor da construção, designadamente arquitetos, engenheiros e técnicos especializados em eficiência energética. Esta medida visa garantir a disponibilidade de mão de obra qualificada para realizar as obras de renovação. Assim como a sensibilização da população para a importância da eficiência energética nos edifícios, visando incentivar a adoção de práticas mais sustentáveis por parte dos proprietários de edifícios.

 

Em resumo, algumas das medidas chave do Plano Nacional de Renovação de Edifícios (PNRE) no âmbito da Diretiva Europeia de Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD) são:

  1. Definição de metas de eficiência energética e renovação de edifícios: estabelece metas específicas para a melhoria da eficiência energética e a renovação de edifícios, proporcionando diretrizes claras para o setor da construção.
  2. Incentivos financeiros: prevê incentivos financeiros para apoiar os proprietários de edifícios na realização de obras de renovação energética.    
  3. Promoção da formação e capacitação: inclui medidas para promover a formação e capacitação de profissionais do setor da construção.
  4. Sensibilização e educação pública: prevê a realização de campanhas de sensibilização e educação pública para informar os cidadãos sobre a importância da eficiência energética nos edifícios e os benefícios da  renovação energética.

 

Os Estados-Membros devem submeter os seus projetos de plano à Comissão Europeia a cada cinco anos, sujeitos a avaliação e possíveis recomendações. São realizadas consultas públicas para garantir a participação de partes interessadas relevantes, como autoridades locais, organizações da sociedade civil e grupos vulneráveis.

A Comissão Europeia avalia os planos apresentados, verificando se as metas são ambiciosas o suficiente, se as políticas e medidas propostas são adequadas e se os recursos alocados são suficientes. Com base nessa avaliação, recomendações específicas podem ser formuladas para cada Estado-Membro, visando garantir o alinhamento com os objetivos gerais de redução de emissões e melhoria da eficiência energética.

Modelo de Plano Nacional de Renovação de Edifícios

O Modelo de PNRE, mencionado no artigo 3º da Diretiva, define indicadores obrigatórios e facultativos, bem como políticas e medidas, metas e trajetórias para a renovação do parque imobiliário. Apresentamos uma versão simplificada:

Indicadores Obrigatórios:

  • Número e área total de edifícios por tipo, classe de desempenho energético, e idade do edifício.
  • Número de certificados de desempenho energético por tipo de edifício e classe de desempenho energético.
  • Taxas anuais de renovação por tipo de edifício e profundidade de renovação.
  • Consumo anual de energia primária e final por tipo de edifício.
  • Poupanças de energia por tipo de edifício.
  • Quota de energias renováveis no setor dos edifícios.
  • Emissões operacionais anuais de gases com efeito de estufa por tipo de edifício.

Indicadores Facultativos:

  • Panorama do parque imobiliário nacional por dimensão do edifício, zona climática, etc.
  • Taxas de renovação por profundidade e edifícios públicos.
  • Consumo médio de energia primária em edifícios residenciais.
  • Redução de custos de energia por agregado familiar.
  • Utilização de energia primária dos melhores edifícios.
  • Repartição dos sistemas de aquecimento.
  • Descrição de entraves e lacunas do mercado.

Roteiro para 2030, 2040 e 2050:

  • Metas para taxas anuais de renovação, consumo de energia, poupanças de energia, energias renováveis, emissões de gases com efeito de estufa, etc.
  • Políticas e medidas para alcançar estas metas, incluindo normas mínimas de desempenho energético, promoção de fontes renováveis, correção de défices de competências, etc.

Panorama das Políticas e Medidas Aplicadas e Previstas:

  • Identificação de estratégias de renovação eficazes, normas mínimas de desempenho energético, promoção de renovações profundas, etc.
  • Recursos e capacidades administrativas, incluindo recursos orçamentais.
  • Políticas para aumentar a resiliência dos edifícios, segurança contra incêndios, eliminação de substâncias perigosas, etc.

Descrição das Necessidades de Investimento e Fontes de Financiamento:

  • Necessidades totais de investimento para diferentes períodos, incluindo investimentos públicos e privados, e recursos orçamentais.

Limiares e Normas para Edifícios Novos e Renovados:

  • Limiares de emissões e utilização de energia primária para edifícios novos e renovados.

Trajetória Nacional para Renovação do Parque Imobiliário Residencial:

  • Metas intercalares para o consumo médio de energia primária em kWh/(m2.ano) até 2030 e 2035.

Aqui destacam-se os pontos-chave do modelo de Plano Nacional, facilitando a compreensão e implementação das medidas para a renovação energética dos edifícios.

Poderá consultar mais informação no documento oficial da UE.

 

Qual a metodologia de cálculo do desempenho energético dos edifícios

O Quadro Geral Comum para a Metodologia de Cálculo do Desempenho Energético dos Edifícios, referido no artigo 4º da Diretiva, estabelece as diretrizes para determinar o desempenho energético de edifícios. Isso é baseado no consumo de energia calculado ou medido e deve refletir o consumo típico para aquecimento, arrefecimento, água quente, ventilação, iluminação e outros sistemas técnicos.

Os Estados-Membros devem garantir que o consumo típico de energia seja representativo das condições reais e do comportamento dos usuários. A metodologia deve permitir identificar a influência do comportamento dos ocupantes e do clima local. O desempenho energético é expresso por um indicador numérico de energia primária por área de referência por ano.

A metodologia é descrita com base em normas europeias relevantes e deve ser transparente e aberta à inovação. Os Estados-Membros reconhecem e contabilizam os benefícios do fornecimento de redes urbanas de aquecimento ou arrefecimento na metodologia.

As necessidades de energia são calculadas com base em intervalos mensais para levar em conta a variabilidade das condições. Os fatores de energia primária são regularmente atualizados e baseados nas matrizes energéticas esperadas.

 

O desempenho energético é expresso por indicadores adicionais, incluindo energia renovável, não renovável e emissões de gases de efeito estufa. A metodologia considera uma variedade de aspectos, incluindo características térmicas, instalações técnicas e condições climáticas.

Os edifícios são classificados em várias categorias para facilitar o cálculo do desempenho energético.

 

Quais são as oportunidades que a EPBD traz consigo

A EPBD traz diversas oportunidades para diferentes setores e atores envolvidos no mercado imobiliário e na transição energética. Algumas delas são:

  1. Inovação Tecnológica: impulsiona a inovação tecnológica no setor da construção, estimulando o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções para edifícios mais eficientes energeticamente.
  2. Mercado de Energia Renovável: promove o uso de energias renováveis nos edifícios, criando oportunidades para empresas que fornecem tecnologias de energia solar, eólica, geotérmica, entre outras.
  3. Eficiência Energética: empresas especializadas em eficiência energética podem prosperar com a procura crescente por serviços de avaliação energética, consultoria e implementação de medidas de eficiência.
  4. Construção Sustentável: incentiva práticas construtivas mais sustentáveis, abrindo oportunidades para empresas que fornecem materiais de construção sustentáveis e soluções de construção verde.
  5. Empregos Verdes: a transição para edifícios mais eficientes e sustentáveis cria oportunidades de emprego verde em toda a cadeia de valor da construção, desde a projeção e construção até à manutenção e renovação.
  6. Consultoria e Formação: a procura por consultoria e formação em eficiência energética e sustentabilidade aumenta com a implementação da EPBD, oferecendo oportunidades para empresas e profissionais especializados nesta área.
  7. Mercado Imobiliário: valoriza edifícios com certificação energética mais elevada, criando um mercado mais atrativo para os mesmos.
  8. Tecnologias Inteligentes: A integração de tecnologias inteligentes nos edifícios, conforme promovida pela EPBD, abre oportunidades para empresas que desenvolvam soluções de automação, gestão de energia e monitorização do desempenho dos edifícios

 

Qual a importância da aprovação desta Diretiva para a descarbonização

A aprovação da Diretiva relativa ao desempenho energético dos edifícios (EPBD) desempenha um papel crucial na descarbonização, por várias razões:

  • Redução das Emissões de Carbono: o setor da construção é responsável por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa. Ao promover edifícios mais eficientes energeticamente, a EPBD contribui para a redução das emissões de carbono associadas à construção e operação de edifícios.

  • Estímulo à Adoção de Energias Renováveis: incentiva a instalação de sistemas de energia renovável em edifícios, como painéis solares e sistemas de energia geotérmica. Isso não só reduz as emissões de carbono, mas também promove a transição para uma matriz energética mais limpa e sustentável.

  • Melhoria da Eficiência Energética: edifícios mais eficientes energeticamente consomem menos energia para aquecimento, refrigeração, iluminação e outras necessidades, o que reduz a procura por combustíveis fósseis e, consequentemente, as emissões de carbono associada.

  • Alinhamento com as Metas Climáticas da UE: a EPBD está alinhada com os objetivos climáticos da UE, incluindo os estabelecidos no Acordo de Paris e no Pacto Ecológico Europeu. Ao cumprir as metas de eficiência energética e descarbonização do setor da construção, a UE está a progredir na direção de uma economia de baixo carbono e resiliente ao clima.

 

Em conclusão, a EPBD não só vem impulsionar a transição para edifícios mais eficientes e sustentáveis, mas também cria oportunidades económicas significativas em vários setores relacionados com a construção e energia, representando um avanço no percurso da UE rumo à sustentabilidade, pois ao impulsionar a eficiência energética dos edifícios, esta legislação contribui para a redução das emissões de carbono e cria oportunidades de crescimento económico e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos europeus. A aprovação da EPBD é fundamental para a descarbonização, pois promove a eficiência energética, o uso de energias renováveis e a redução das emissões de carbono no setor da construção, contribuindo assim para os esforços globais de combate às alterações climáticas.

 

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[1] O Pacto Verde Europeu, ou "Green Deal", delineia um conjunto de medidas para enfrentar os desafios climáticos e tornar a Europa o primeiro continente neutro em carbono até 2050, reduzindo as emissões de gases de efeito de estufa e promovendo a transição para energias limpas e renováveis.

Contributors

André Calixto

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Partner & CEO, Nextbitt

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